quarta-feira, dezembro 29, 2004

A Decisão - Parte Zero [antes da tomada desta]

- Então boa viagem meu, e cuidado com as gregas! – disse-me Ricardo, enquanto se despedia de mim no aeroporto. Eu tinha “acabado de acabar” o curso de Engenharia Civil e ia agora passar umas semanas na Grécia, tinha ganhado a viagem e os bilhetes como prémio do projecto mais futurista, num projecto levado a cabo pela universidade.

- Obrigado, e livrem-se de fazer aquela orgia sem mim!! – respondi, com um sorriso, afastando-me. No aeroporto estavam André, Bruno, Ricardo e suas respectivas namoradas, Andreia, Filipa e Mariana. Sem namorado estava Graça, cujo namorado ia de viagem para o estrangeiro nesse dia (sim, era eu) e Paulo, que tinha acabado uma relação fazia 15 dias. Tinha dito isto das orgias porque desde sempre brincamos com o facto de sermos um grupo de casais, dizendo que deveríamos fazer uma orgia todos juntos. Contudo, em algumas vezes pareceu-me que havia pessoas que me pareciam querer mesmo. Mas claro, era só impressão minha. Estava a ser estúpido, injusto e ingrato.

Porquê ingrato?
Houve uma altura na minha VIDA em que estava na merda... Completamente arrasado com uma série de desilusões, já tinha perdido a esperança para quase tudo, limitava-me a existir, viver era impossível para mim. Foi então que conheci Graça, num dia em que insistiu em tomar café comigo. Eventualmente a relação foi crescendo e começamos a namorar. Apresentou-me seus amigos, que meus se tornaram também. Com uma cumplicidade enorme e dispostos a darem sempre tudo o que o outro necessita, rapidamente me inseri naquele grupo coeso e divertido. Conheciam-se todos faziam muitos anos, tinham feito a universidade juntos, mas esforçavam-se para não me fazer sentir que “tinha vindo depois”.

Caminhei em direcção à porta de embarque, dizendo um último adeus ao pessoal e ao meu amor.

O congresso foi, para surpresa minha, do mais aborrecido e desinteressante que poderia haver. Durou uma semana, só tinha o voo de regresso daí a 11 dias. Assim, aproveitei uma semana de férias, durante a qual calcorreei Atenas e arredores, ficando bem impressionado, apesar do aspecto velho de muitas ruas. Consegui antecipar o meu voo em 4 dias e fiquei logo a pensar na cara de toda a gente quando eu aparecesse de surpresa, com um monte de prendas! Seria divertido.
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Assim, apanhei o avião e cheguei passadas 8 horas de viagem. Transbordos, esperas e atrasos faziam esta viagem bastante aborrecida.
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Chego, apanho um táxi até casa. Pago um balúrdio, mas não me apetecia minimamente esperar pelo autocarro. Quando chego a casa, tomo banho, desfaço as malas, arranjo-me, meto os presentes na mala do carro e vou a casa de Graça. Contudo, quando toco a campaínha, ninguém atende. O mesmo se passa quando vou a casa de Ricardo, André... Como era um Sábado penso que podem ter ido passar o fim-de-semana a qualquer lado.
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Ligar-lhes estragaria a surpresa. Assim, ligo para a mãe de Graça, que me diz terem ido passar o fim de semana onde tantas vezes vamos. Sim, porque não tinha pensado logo nisso? Uma casa na Serra que tantas vezes alugamos, quando S.Pedro nos presenteia com um fim de semana mais solarengo.
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Meto-me no carro e estou lá em meia hora. Bingo! Seus carros estão estacionados cá fora. Saio do carro, visto uma camisola de lã, amarela (faz mais frio na serra, apesar do sol) e dirigo-me à casa. Tiro as chaves do bolso, e abro a porta. Decidimos fazer uma cópia para cada pessoa logo da segunda vez que fomos para a casa.
Ouço música muito alto, um pouco mais pesada do que costumamos ouvir. Bstante fumo, parecem estar a fumar ganza. Acho estranho, só por 2 ou 3 vezes eu havia fumado com Graça, seria estranho que estivesse a fumar agora. Começo a sentir o peito quente. Percorro o corredor e encontro na sala André, Filipa e Mariana. Os 2 primeiros estão completamente nus, a jogar consola. Sentada à sua direita está Mariana, vestida apenas com um soutien, e olha-me de boca aberta. Quando se apercebem de que estou lá, André e Filipa rodam a cabeça, olhando-me estupefactos.
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- Meu, que fazes aqui?... - pergunta-me André. O sangue sobe-me à cara, rezo em silêncio para não acontecer o que estou a prever. Volto-me, dirigo-me ao quarto maior, de onde vêm sons de música, gritos, gemidos... Vejo a minha VIDA em câmara lenta, os meus movimentos como que gravados. A minha mão que agarra o puxador dourado, este a ceder, abrindo a porta de madeira escura. Entro e vejo... Deitado no chão Ricardo, a fumar um cigarro, todo nu, com Andreia deitada também nua, apoiando sua cabeça na barriga do amigo. Na cama, Bruno, deitado por baixo, e Graça, nua da cinta para baixo, mas com uma blusa fina, ajoelhada por cima dele, com uma perna para cada lado de seu corpo movimentando-se freneticamente para a frente, para trás... Sinto uma explosão por dentro, não acredito no que os meus olhos vêem, mas fico em silêncio. Precisam de mais de meio minuto para se aperceberm da minha presença. É Graça que, enquanto abanava a cabeça à medida que se aproximava do orgasmo, me vê...
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Pára completamente e diz meu nome, com os olhos muito abertos. Toda a gente pára e olha-me, sem saberem porque caralho estou ali. Não consigo a imagem que queria e desmancho-me em lágrimas silenciosas que escorrem pela cara, esborraxando-se no chão.
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- Xavier por favor não me odeies!! Isto não significa nada, isto é só carne! Nós sabíamos que tu nunca ias querer participar, por isso não te dissemos nada!! - grita, abraçada a mim, chorando. Não mecho um músculo. Apetece-me dar-lhe uma valente bofetada e matar os outros ao soco. Todavia, respiro fundo, agarro Graça pelos braços e empurro-a para trás, fazendo-a cair desamparada na cama. Volto as costas e vou.
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Não paro na sala com medo de me descontrolar, meto-me no carro e vou a conduzir a chorar o mais rápido que consigo. Não tenho nenhum amigo que me conforte, vou para casa de meus pais. Estaciono o carro violentamente, abro a porta e saio. Meu pai, que concerteza ouvira o barulho dos travões abre a porta, ainda em robe. Abraço-me a ele, choro compulsivamente, contando entre soluços o que me havia passado.
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Ele fica calado a ouvir tudo e quando acabo, espera uns longos 2 minutos e diz-me calma e friamente:
- Filho, a culpa é toda tua... De certeza que nunca soubeste fode-la como queria... - Largo-o naquele segundo. Olho seus olhos frios, quase prazeirosos com aquela lança que me havia espetado no coração. Não acredito no que me acontece, sinto-me a personagem de um livro, o mais dramático possível.
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Contudo, minhas lágrimas param, conformo-me. Vou para casa, juro que nunca mais choraria por ninguém, passo toda a minha VIDA em revista, a desilusão que tenho tido, uasm atrás das outras, chego às conlusão que as pessoas são lixo, preciso de encontrar outra maneira de ser feliz, preciso de tomar uma decisão.
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E tomo... Juro a mim mesmo que a partir desse dia nunca mais teria uma relação com ninguém na minha VIDA...

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segunda-feira, dezembro 27, 2004

VIDA de Pai-Natal

Filha da P...olícia (ai porque é que eu não posso dizer asneiras?...), tanto trabalho e tão pouco tempo! É assim todos os anos! Parece que quando prolongo um bocadito as férias, o trabalho duplica! Maldito Murphy e a sua lei... Realmente, mais universal que a matemática! Quando perco 2 meias, nunca são do mesmo par, quando está prestes a dar um programa na Rádio Natal FM que realmente me interessa é quando tenho de ir por um túnel e ficar sem rede, enfim...
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E agora, os putos parece que deixaram tudo para a última da hora e só começaram a mandar as cartas a partir de Outubro! Assim é díficil, como é que hei-de saber o que fazer antes, se ainda não recebi instruções? Tenho vindo a pedir aO Patrão uns meses mais extra de paragem, mas ele é obstinado como uma ovelha!! (oops, desculpa aí, chefe...). O tempo de paragem, grande cena... Acontece duas vezes por ano, uma no início de Dezembro, outra na madrugada de 24 para 25. Da primeira, O Patrãozinho pára o tempo para o mundo todo, dando-me oportunidade para viajar pelo mundo durante 4 meses, que correspondem a 4 segundos para o resto das pessoas. É durante este tempo que consigo entrar na pele dos pais esquecidos por esse mundo fora e fazer com que comprem as prendas para os miudos que se portaram bem. HHmmm... Ok, aqui entre nós, os que se portaram mauzito também recebem as prendas, mas não digam nada ok? Tenho instruções para não o fazer, mas não consigo resistir, eu sei que eles não fazem por mal, eles é que não gostam daquela sopa (e por isso não comem), ou daquela tia (por isso fazem birra quando têm de ir para sua casa)...
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Parece que não, mas isto demora um tempão, e o processo de transferência (quando entro nos seus espíritos) é bastante cansativo.
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Depois, na madrugada de 24 para 25, vocês ficariam surpreendidos com a quantidade de pais que não está para se maçar acordando a meio da noite e ir por as prendinhas debaixo da árvore! É aí que eu entro mais uma vez. Entro nos seus espíritos e faço com que acordem sem se dar conta, e lá vão por as prendinhas no sítio.
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E os que não têm paizinho ou maezinha? A essas faço-as sempre crer que é algum estranho, ou alguma associação que faz as prendas chegar até eles, não quero revelar totalmente a minha existência. Quero que tenham fé em mim, não certezas.
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No final, de volta a casa. Pelo caminho dou uma olhada... A verdade é que tenho pedido ao Patrão uma Mãe-Natal, mas ele não vai em cantigas. Tenho de me contentar com os anõezitos que andam lá dum lado pró outro a fingir que ajudam, mas são malta porreira.
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Como recompensa, tenho o sorriso que as crianças esboçam no dia a seguir. E assim é bom ser Pai-Natal...

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domingo, dezembro 26, 2004

O Meu Natal

Natal... Que fazer, ou que não fazer?... Acabo por decidir que pela primeira vez na VIDA vou passar o Natal sozinho. Converso comigo próprio, convencendo-me de que não há problema... Então... eu não sou religioso, nunca fui, mesmo que fosse, Cristo nem nasceu exactamente neste dia, foi só um dia convencionado, porque é que há-de ser um problema, porque não poderei passá-lo na boa, sozinho, a ver uns filmes?...
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Foda-se, a quem é que eu tento enganar? (a mim) Eu próprio não acredito em nada do que digo, o que se passa é que passar o Natal sozinho é uma merda... No ano passado quase o fazia, farto das merdas do meu irmão Manuel, com sua arrogância e mania de controlar a VIDA de toda a gente (porque a sua é uma tristeza...); e do meu irmão Jerónimo, um pobre desgraçado que nunca teve tino, e é o epicentro desta merda toda... Mete-me a mim e Manuel enterrados, mas Manuel dispara em todas as direcções, e já muitas vezes eu estava numa destas direcções.
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No ano anterior deixei o espírito natalício falar mais forte, mudei de ideias à última hora. Apareci em casa de minha mãe (a que mais sofre com isto tudo) à última da hora. Haviam-me oferecido uma garrafa de licor bastante cara, como não gostava dei-a a Manel, sendo a oferta o culminar daquele processo de paz. A partir desse dia as coisas voltaram ao normal: Manel a chatear e os outros e estes a aguentar, mas com comunicação...
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Todavia a comunicação caiu por terra Setembro último. Gota a gota, o copo havia enchido, outra vez... Então aqui estou, abri uma garrafa de vinho tinto alentejano, aluguei "Frida", preparei um frango que dá gosto de ver, vesti as calças de fato de treino e a TShirt de andar por casa.
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O meu Natal, um dia como os outros...
(mas estou tão só...)

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segunda-feira, dezembro 20, 2004

A Mulher do Hospital - Parte IX

- Hei, não queres ir para a cama? - Acordo. Vislumbro um relógio de ponteiros que me dizia serem perto das 5 e meia. De facto estava um pouco frio ali, no meio da sala, dormindo todo nu. Ao meu lado, MJoao com um olhar ensonado, com apenas uns boxers femininos no corpo levantava-se com intencoes de ir para a cama, pensava eu.
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Vejo-a caminhar lentamente, sempre com aquele balancar de ancas que me seduzia, até desaparecer no corredor. Levanto-me, visto os boxers e sigo-a. Chego à cama, levanto o edredão que a cobria e deito-me também. Viro-me para o seu lado e pouso minha mão na sua cinta. Ligeiramente MJoão faz a minha mão descer pelas suas costas, aterrando nos lençois já quentes. Tento não fazer caso e fecho os olhos. A última coisa que vi antes de adormecer foi sua cabeça pousada na almofada, ocupada quase no total pelos seus cabelos, espalhados quase de forma artística e preparada.
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Abro os olhos. Talvez pela primeira vez na minha VIDA tinha conseguido dormir sem me mexer, já que tinha acordado exactamente na mesma posição em que adormecera (será que tinha dado mil voltas e acabado na mesma?...) Contudo meus olhos não vêem o mesmo que viam ao adormecer. Em vez, viam uma janela com cortinas azuis claras e uma frincha aberta, por entra entrava uma leve corrente de ar, que julgava ter sido a razão de meu despertar.
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Penso que deve estar na cozinha, na sala, a tomar banho... Não consigo deixar de pensar naquelas imagens que Hollywood nos trazem da bela mulher, depois duma noite louca, na cozinha a preparar qualquer coisa com apenas uma camisa de homem vestida. Sorrio e afasto o pensamento da mente, à medida que me dirigo à cozinha. Com a luz acesa e vestígios de um pequeno-almoço preparado e comido, encontro uma nota no meio da mesa de mármore negro.
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"Bom dia. Tive de sair. Podes comer o que quiseres. Maria João." - fiquei um longo minuto a olhar para a nota. Parecia-me... Seca, é a palavra. Disse a mim mesmo para parar com paranóias, simplesmente não me quis acordar e provavelmente teve de sair à pressa. Contudo, não sabia o que fazer... Se ficar, esperando-a, se sair... Acabo por me decidir a tomar um duche, comer qualquer coisa e ir para casa, deixando uma nota também.
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Assim, passado uma hora, em que tomei com calma um longo duche, e preparei depois uma sanduíche que me soube deliciosamente, peguei na caneta que ainda estava na mesa ao lado do papel, virei este e escrevi nas suas costas: "Bom dia. Obrigado, roubei-te 2 ou 3 salsichas, espero que não te importes:) Também tive de ir para casa, tratar duns assuntos [menti]. Se mais logo quiseres fazer qualquer coisa, um café, um filme... Liga-me. Beijos, Luís."
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Esperando que de facto me ligasse, deixo o apartamento. Apanho um táxi e vou para casa. [continua]

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quinta-feira, dezembro 16, 2004

Viver Sozinha...

6 e meia! Que seca, nada para fazer. Bem que podia comprar o jornal e procurar um emprego... Mas para que? O dinheiro que a minha familia me deixou chega bem. E mais o subsidio de desemprego que ganho da para ate ter alguns luxos. Mas o tempo podia passar mais depressa se fizesse alguma coisa... Passo os dias aqui fechada, ora a ver televisao, na internet a ver sites pornograficos e a masturbar-me, enfim, que VIDA...
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Desligo a televisao, vou buscar a mesma revista de sempre e deito-me no sofa. Desaperto as calcas de ganga que respiram aliviadas, baixo-as ate aos tornozelos e masturbo-me mais uma vez. Sera que estou a ficar viciada? Segunda vez num dia... Com 52 anos e ainda nisto... No fim acabo por adormecer por pouco mais de 2 horas. Sonho que conheco um homem, sempre a mesma merda de sonho, que so me faz ficar tao desiludida quando acordo...
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Olho o relogio e sao quase 9 horas. Vou ah cozinha e ponho a aquecer a comida do meio dia. Cozinho sempre a mais ao meio dia para depois ao jantar so ter de aquecer. Poupo trabalho... Enquanto a comida aquece tomo um duche. Depois do shampoo, sabonete, creme hidratante, amaciador, creme anti celulite, auto bronzeador e desodorizante dirigo-me ao quarto, onde me visto. Calcas de ganga justas, uma blusa azul escura com um decote grande, casaco de seda azul por cima. Como frango e arroz e bebo uma garrafa de vinho tinto nacional (apesar de nao apreciar muito vinho finlandes) vendo televisao, e demoro mais de uma hora. Por fim, quando chegam as 23h, vou sair. Nao combino nada com ninguem (nao teria tambem muita gente com quem combinar), quero estar livre, nunca se sabe.
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Completamente tonta (uma garrafa de vinho para uma senhora nao eh pouco) vou com calma pela rua, Kauppakatu. uma das coisas que aprecio em Jyvaskyla, a noite. Cheia de estudantes, cheia de estudantes estrangeiros, um bom ambiente. Penso durante um segundo e decido ir ao Fever. Quando chego, apos pagar 4 euros para entrar mais 1,2 para deixar o casaco vou para o bar. Esta cheio hoje, bom! A primeira coisa que faco eh pedir uma cerveja, que me custa 4 euros. Ai fico, encostada ao bar, bebendo cerveja atras de cerveja. Uma banda toca covers de musicas modernas. Vou bebendo, esperando que acabe, e sempre olhando ah volta, nas esperanca que alguem troque um olhar comigo.
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Quando eh uma da manha e seguramente muita gente ja esta bebeda (eh mais facil assim) vou para a pista. Por esta hora ja muita gente da minha idade danca, com o mesmo proposito que eu. Eis que avisto um jovem, nao deve ter mais de 24 anos. Tem aspecto de Sul da Europa, Italia, Espanha... Ou Portugal, sim. Com um aspecto descontraido, cabelo mais ou menos grande e escuro, calcas de ganga azuis e uma TShirt da mesma cor que diz "LIFE is Skate (What Else?)". Eu dizia-lhe 'what else'... Aproximo-me e comeco a fixa-lo. O rapaz nao precisa de muito tempo para perceber. Coitado, tenta fazer com que eu nao perceba, mas eu percebi que ele percebeu. Mas nao olha para mim, nao faz caso!... Decido-me! Aproximo-me mais e toco-lhe no ombro, chamando-o para dancar. Coitado.. Faz um sorriso envergonhado e diz que nao, virando-se lentamente para outro lado. Espera 5 minutos, para eu nao pensar que abandona a pista por minha causa, e sai, indo ter com 2 amigos altos, de aspecto de Norte da Europa.
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A noite passa, e volvo a casa, uma vez mais, sozinha... Que pobre espirito sou... O que fazer para sair desta merda de VIDA?... Sei exactamente o que o rapaz deve ter pensado, algo como "ops, que eh que esta mulher quer? Coitada, mais de 50 anos e a atirar-se a um rapaz de 20..."... A VIDA torna-se tao desesperada quando nao temos ninguem... Viver sozinha nao eh viver. viver sozinha eh viver com o objectivo de mudar radicalmente a sua VIDA. E viver com este pensamento 24 horas por dia, eh sinal que a nossa existencia nao vai bem...

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quinta-feira, dezembro 09, 2004

Velhinho

Hoje esta friito... Mesmo assim, quero ir ao jardim, acho que ela vai estar la... Visto o meu casaco, luvas, protecoes para as orelhas, gorro e cachecol, pego na bengala e vou. Demoro mais de meia hora a percorrer a curta distancia entre a minha casa e o jardim, onde pequenas criancas agasalhadas tanto quanto podem brincam felizes.
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Sento-me no banco de madeira verde e tiro o saco de pao ralado com cuidado para niguém ver. Tenho vergonha de o fazer, da maneira como as pessoas olham para mim como um velho senil, mas adoro atirar maos cheias de pao para o chão e ver as pombas, felizes e vorazes, devorar tudo. Está um dia triste, que me faz ficar também um pouco triste. Pelo menos é o que digo a mim mesmo, que é por causa do dia, quando no fundo sei que é porque ela não deve vir hoje.
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Estou eu a pensar na sua ausência quando sou brindado pela sua presenca. Ao fundo, caminhando um pouco curvada (ai as cruzes...) vejo-a, no meio das suas amigas de todos os dias. Penso mais uma vez na sua idade. Deve ser mais ou menos da minha idade, 85 no máximo. Sinto-me triste, porque queria falar com ela, ser seu amigo, convidá-la para tomar café e falar, falar, falar... Só queria alguém com quem poder falar, conversar, dizer o que penso disto, daquilo... Alguém que me salvasse um pouco desta solidão que vivo todos os dias. Assim sofre um pobre viuvo. Com um contacto raro com os filhos, que foram viver para a outra ponta do país, com poucos amigos, e os melhores já falecidos, sinto que não pertenco aqui. Queria falar com ela, mas sei como são as senhoras de sua idade. Apesar de viuva como eu (disse-me o Álvaro), sei que geralmente as senhoras desta idade são muito fieis à memória de seu marido, achando que estão a cometer terrível pecado em partilhar a sua solidão com outro homem.
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Na verdade é só isso que quero fazer. Não quero sexo, não conzeguiria mesmo que quisesse, não quero nada de mal, só gosto daquela senhora, nem sei bem porque gosto dela e as outars me são indiferentes... Bem, encho-me de coragem, tento afastar da minha cabeca os pensamentos que corriam e levanto-me do banco, com o intento de me dirigir ao banco onde a senhora se sentou. Que tenho a perder? Respeito por mim talvez, caso seja recusado... Não interessa agora...
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Aproximo-me, faco uma ligeira vénia, tirando o gorro e pergunto à senhora, sabendo que à partida não se surpreenderá muito com a pergunta, já que sabemos da existência um do outro e já trocamos alguns olhares:
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- Desculpe, mas conceder-me-ia o prazer de me acompanhar num café nesta manhã? - Neste momento, abre muito os olhos, olha uma ou duas vezes para as senhoras que se sentam a seu lado e dispara, numa voz baixa e lenta, mas cortante:
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- Mas o senhor pensa o quê, que sou uma mulher qualquer que vai para um café com alguém que nunca viu na VIDA? Desculpe, mas o senhor não tem esse direito!... - Totalmente arrependido, faco uma vénia, peco perdão e retiro-me. Caminho lentamente, com uam dor no fundo da gargante incrível. Apetece-me chorar mas digo a mim mesmo que devo ser forte e sigo caminho, com lágrimas batalhando para saltar, e um buraco no lugar do coracão.

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sexta-feira, dezembro 03, 2004

Erro

Detesto que penses em mim como um erro... Especialmente porque foi um "erro" que tu quiseste cometer, que tu sabias que ias cometer. Nao foi simplesmente algo que aconteceu no final de uma noite louca, com uns copos a mais. Planeaste, centimetro a centimetro, cada detalhe, sobre como levar a melhor sobre mim e conquistar-me. Nao eh curioso que sabias exactamente do que falar, ate sabias o meu filme favorito ve la tu...
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Estupida fui eu, que, iludida pela tua conversa, abri-te a porta de minha casa. Falaste comigo no cafe. Estava com as minhas amigas, tu estavas com os teus. Conheciamo-nos, mas nao podiamos dizer que eramos amigos. Comecaste a meter conversa, sobre isto, sobre aquilo, ate que comecei a pensar diferente de ti. Estava farta de saber que tinhas namorada, mas mesmo assim, o que sentia era mais forte. Nesse dia deixamos um encontro marcado, proxima Sexta-Feira, ir ver o ultimo filme daquele realizador de que tinhas tao bem falado. Nos dias seguintes estava com alguma ansiedade, expectante por ti, mas enganava-me a mim propria: "Nao Manuela, nao se passa nada, sao so amigos, que se podem tornar bons amigos..." - o que eh certo eh que quando chegou o dia demorei quase tres quartos de hora a pensar no que vestir. De vez em quando vinha-me ah cabeca a imagem da tua namorada, mas depois pensava que nao se iria passar nada, eu nao queria e ele certamente que tambem nao...
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Vimos o filme, bastante interessante. No final fomos tomar cafe ao Tapas, mesmo em frente ao cinema. Estivemos la um bom bocado, mas quando chegou por volta da uma da manha disseste que tinahs de ir embora. Assim o fizemos, mas quando chegamos ao teu predio perguntaste se queria subir para tomar qualquer coisa. Eu, estupida, disse que sim, sem pensar duas vezes. Assim, quando chegamos, meteste a tocar Diana Krall, Live in Paris, e serviste-me um Gim Tonico. Sentaste-te ao meu lado no sofa, a conversar sobre trivialidades. Foste-te aproximando e eu, sabendo exactamente o que se passaria de seguida, nao me afastava. Comecaste pousando tua mao na minha perna e acabaste com a tua lingua a procurar a minha por entre meus labios. Quando estavamos no sofa, semi-nus, perguntaste se queria ir para o quarto. Bem nem quero pensar no que se passou depois... Usaste e abusaste de mim (e como gostei) e de manha pediste desculpa, mas o que se tinha passado tinha sido um erro e talvez fosse melhor nao nos vermos mais... Eu, sem reaccao, vesti-me e sai...

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