terça-feira, agosto 28, 2007

Ilusões

Narrador

Reúno-me todos os dias com alguém. Rio, faço caras tristes, sou empático, sou antipático, sou um pouco de tudo, de acordo com o que acho que devo ser em determinado momento para gostarem um pouco mais de mim, para reunir um pouco mais de admiração. Quando acordo, acordo já com um enorme olho em cima de mim. Observa-me e esmaga-me, lembrando-me constantemente do que fazer, de como ser, para que assim consiga desfrutar a minha existência. Claro que nesta busca tão desesperada de ser feliz, sinto-me constantemente cansado. Desapareço entre os segundos, disperso busco uma identidade entre as palavras que me dizem, a imagem que vejo no espelho e os sorrisos que recebo. Como seria tudo tão mais fácil se tivesse um guião desta miserável existência.

No fundo… até tenho. O feedback que recebo de toda a gente é o meu guião. Poderia ser aquilo em que eu próprio acredito, o que realmente desejo para mim, mas nada disso é verdade. Os princípios, abandonei-os faz muito tempo, quando percebi que a grande maioria deles me estampava um rótulo de moralista na testa. Daí que procure encontrar nos pseudo-princípios das outras pessoas os meus próprios, tentando manter uma certa coerência impossível de alcançar para o observador mais atento.

Não sei como nem porquê surgiu esta insegurança. Acho que sempre fui assim, não sei porquê. E questiono-me, como me questiono. Como conseguem todas as pessoas ser tão infalíveis, ser tão perfeitas, sem sentir o medo esmagador de errar. E o pior… quando erram, erram com graça. Eu, quando erro, nas raras vezes que isso acontece, erro de uma maneira que me faz sentir completamente humilhado, que me faz sentir uma merda e que todo o meu esforço para ser aceite é menos eficaz que construir um castelo de gelo no Algarve…

Observador

Que porreiraço é o Filipe. Sempre na boa, sempre no pico da onda. Não sei como faz para ser assim. Nunca vi o gajo mal, está sempre a curtir, sempre a planear algo, sempre com alguém, sempre disposto a deixar o amigo a sorrir. Deixa-me a pensar em mim próprio. Às vezes chateia-me ser como sou. Quando estou bem, sei que devo estar triste de vez em quando, porque sou humano, e até para dar mais valor a quando estou feliz. Mas quando acontece estar triste, amaldiçoo essa condição, e queria ser como o Filipe, estar sempre bem, sempre sem problemas, e apreciar cada segundo. “Paciência”, penso, não podemos ser todos assim…

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