segunda-feira, setembro 12, 2005

A Mulher do Metro - Parte III

Observei-a descer a rua lentamente, passo atrás de passo. Fiquei com a sensação que toda a gente por quem ela passava a olhava de lado, como se lhe desejasse algo de mau. "Deixa-te de paranóias" - pensei, mesmo antes de chegar alguém, um homem alto e magro com cara de mau, que dum momento para o outro lhe agarra o braço com violência. Vocifera algo que não percebo enquanto a agita freneticamente. Por um lado sinto o ímpeto de fazer alguma coisa, por outro, gosto de ver a maneira como ela lida com aquilo. Não lida, simplesmente! Permanece impassível, olhando para a frente, ele (penso) chama-lhe nomes e ela não responde. Até que ele desiste e a larga, indo embora.
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Passa a mão no cabelo e segue em frente, como se nada tivesse acontecido. É aqui que me assusto outra vez ao pensar ir falar com ela. E se ela me trata como aquele homem, me ignora completamente. Nunca lidei com esse tipo de humilhação... Ainda um pouco confuso, começo a caminhar na sua direcção.
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Ao chegar ao mesmo lado do passeio onde caminha, o mundo ao redor lentamente esvanece. Só tenho olhos para as suas linhas, caminhando lenta e sensualmente. Todo o tipo de pensamentos me sobem à cabeça, imagino-me com as mãos nas suas ancas, o seu corpo quente e nu a balançar-se sobre mim, seus mamilos... Bem, pára! Controla-te! Sacudo a cabeça e mantenho-me como se fosse uma pessoa qualquer.
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Apresso o passo, reduzindo a distância e começo a sentir o seu perfume, Deep Red, mais uma vez. É neste momento que cruza uma esquina. Eu faço o mesmo passados 5 segundos e já não a vejo. Entro em pânico quase instantaneamente, perdi-a. Olho em volta, até que ouço, num russo com sotaque:
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- Vais dizer-me o que queres duma vez por todas ou tenho de chamar a polícia? - a voz, que não preciso dizer ser sua, vem da minha esquerda, da entrada para o prédio que faz a esquina. O seu ar é de zangado, estou nervoso e sinto o meu corpo todo quente. [continua]

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quarta-feira, setembro 07, 2005

Vivo

with me!!! all these changes take a place, ... hearts and thoughts they fade, fade away...
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Vou a correr montanha acima, com força, com espírito de sacrifício, com dor, com prazer. A cada passada vou deixando partes de mim por todo o lado, que são substituídas por novos elementos que respiro. Este ar quase frio que entra dentro de mim, esta músca que me faz sorrir, esta existência que me satisfaz.
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Continuo e o destino aproxima-se. A queda de água desejada. Passo os olhos à volta e vejo verde, verde, e o azul do céu. O chão cravejado de pedras empurra-me para cima e salto, de quando a quando. Estou em perfeita harmonia com a natureza, sou parte dela..
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memories like fingerprints are slowly raising...
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Tudo o que de mau aconteceu comigo apaguei da memória, sem deixar de ter aprendido com isso, e sem me deixar amargurar... A VIDA é assim mesmo, quero vivê-la, quero estar contente, quero estar triste. Um dia partir com todos os sentimentos vividos dentro de mim, como se eu próprio fosse um mar de sensações que despertam a cada segundo, a cada estímulo.
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hearts and thoughts they fade away...
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Salto!
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i just want to scream Hello!!
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Deixo de saber quem sou e passo a fazer parte de tudo. Sinto o atrito do ar contra mim, empurra-me, como se não quisesse que descesse. Abro os olhos e vejo o fundo cada vez mais próximo. O perigo que envolve tudo fascina-me, faz-me sentir vivo, faz-me sentir, simplesmente. Entro na água, fria, gelada, que me acorda. Deixo-me estar o máximo que aguento, indo ao fundo lentamente. Quando o ar me obriga a sair dou um salto, respiro fundo, olho para o céu lá em cima, azul com algumas nuvens ameaçadoras, e sei que é bom estar vivo...

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sexta-feira, setembro 02, 2005

A Mulher do Metro - Parte II

Os dias passaram, e com eles, também eu. A cada dia ia sentindo-me mais abaixo, mais abaixo, até não saber o que estava a fazer, não saber como o fazer, não saber nada. Não me saía da cabeça aquele olhar triste, a sua face, bela... Queria fugir de onde quer que estivesse e ir salvá-la. Imaginava um sem número de coisas que lhe pudessem estar a acontecer, e imaginava-me a socorrê-la.
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Tinha mais pena das pessoas. Tinha de olhar muito bem para alguém antes de o roubar, sabendo que esse dinheiro não lhe faria falta. Estava com uma moral, dentro desta imoralidade, algo que nunca antes acontecera em mim. Estava, decididamente, diferente. Tinha de tratar disso. O mais rápido possível.
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Começei a vigiá-la. Não me foi difícil chegar onde morava. Da primeira vez, eu levava vestido um pullover vermelho, umas calças de ganga azuis. Enconstei-me a um lampião fundido em frente ao seu prédio de azulejos foleiros castanhos e esperei, fumando cigarro atrás de cigarro. Quando chegou vinha vestida, embora com outras roupas, num estilo exactamente igual a quando a vira da primeira vez. Classe, classe. Senti algo que nunca havia sentido em toda a minha VIDA. Ela era boa de mais para mim. A sua beleza, o seu ar, o seu estilo, classe, era atributos que eu nunca poderia alcançar.
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Apago o cigarro no ferro verde do lampião e sacudo esses pensamentos da cabeça. "Nenhuma mulher é boa de mais para mim. Tenho sempre o que quero. E se quiser esta, tenho-a." - eu próprio não acreditava muito no que diza, mas tentava, lá isso tentava. Estava perfeitamente consciente que esta tinha algo de especial, algo diferente. Algo que eu não podia esperar por saber o que era. [continua]

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