terça-feira, outubro 02, 2007

Mudança

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segunda-feira, outubro 01, 2007

Um Título Qualquer - Salto no Tempo - 3

Salto No Tempo

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Ela descansa ao meu lado. A única iluminação que chega ao quarto de hotel é fornecida pela lua, que brilha alta e cheia. De onde estou vejo, à minha esquerda, ela, a minha perdição, o vício que não consigo largar, à minha esquerda a varanda, com as portadas entreabertas, permitindo as cortinas brancas dançarem ao sabor do vento que não se apresenta nada tímido. Está frio, e puxo um pouco o lençol. Ela está nua, a sua cabeça apoiada no meu ombro, com seu cabelo cobrindo o meu peito, a sua perna esquerda, ligeiramente dobrada em cima da minha cinta. O telefone acende. Comecei por tirar o som, passei a tirar a vibração, quando o desligo?... Já perdi a conta do número de vezes que vi a sua luz projectada no tecto, sempre caindo essas chamadas e mensagens no vazio. Acho que, no fundo, não o desligo porque isso seria, penso eu, um assumir completo de um desligar progressivo que tenho vindo a fazer com tantas coisas na minha VIDA… Que estupidez, esta associação... Mais estúpido ainda, a maneira como o sentimento de culpa que me assola nestes momentos parece desaparecer deixando um pequeno rasto apenas, de cada vez que ela se mexe um pouco, quem sabe impelida por um ou outro sonho… ou a maneira como desaparece, desta feita sem deixar qualquer rasto, de cada vez que olha para mim com aquele olhar cheio de pecado e tentação. Reparo como separo “pecado” de “tentação”… se dantes ficava-me pela segunda, agora entrego-me de braços abertos à primeira, como que fazendo tudo o que tenho para fazer de mal na VIDA, apenas duma vez. Claro, não me refiro apenas a uma ou outra foda, isso seria… um ou outro pecado… Refiro-me às decisões que fui tomando ao longo dos tempos, desde aquela fatídica festa, aos caminhos que tomei, à maneira como me deixei absorver por esse vício, atirando para segundo plano tudo o resto, como se não houvesse amanhã… Aí está… Se não houvesse amanhã, eu não ia para casa, e isso é tudo o que mudou em mim, apenas numa frase…

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Os olhos dela abrem-se. Acorda dum sono que pouco durou, e acorda-me a mim próprio das minhas divagações.

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- Em que pensas, querido?

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- Não te sei dizer… Acho que estava a pensar em como as coisas chegaram até ao ponto em que estão agora…

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- Como assim? – Pergunta-me com a sua voz que, estivesse eu distraído, atiraria novamente os meus pensamentos janela fora. Incrível como podemos passar, em menos de um segundo, de uma posição extremamente racional, para uma extremamente “racionalizadora”. Consigo manter a coerência, a custo.

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- Sei lá… tudo o que fizemos. Como tanto já nos magoamos um ao outro, e sobretudo… as tantas pessoas que já sofreram por nossa causa…

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- Querido… – diz, com voz baixa e quase tranquilizante – Não te alarmes… desde que te vi que sabia que isto só poderia correr mal. – Remata, fechando os olhos e atirando-se para o sono novamente.

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