segunda-feira, abril 11, 2005

(Des)ilusao - Parte II

Por vezes tentava-lhe fazer ciumes, falava muito sobre determinado rapaz, ou fazia comentarios que poderiam ser suspeitos, mas ele parecia nao ligar nenhuma! Eu tinha duas opcoes: ou estranhar esta falta de interesse, ou ver isso como uma prova da sua confianca incondicional. Claro que a minha visao toldada pelo amor so me permitiu contemplar esta segunda hipotese.
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Assim o tempo foi passando, e eu ia alternando a minha disposicao entre momentos de extrema alegria e extrema apatia. Chegava a pensar ser uma paranoica, porque por vezes quando passava pelo grupo de amigos do Joao, sentia que olhavam para mim e se riam, e que mesmo ele dizia coisas sobre mim. Claro que nao era verdade, eu eh que era uma tonta...
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Contudo, com o passar dos tempos esta ideia comecou a apoderar-se de mim. Estava sempre a pensar naquilo, estava sempre a ver os rostos dos seus amigos a rir-se de mim, estava sempre a imaginar o Joao a falar aos amigos de como eu era na cama, das parvoices que dizia. Quando lhe falava disso ele dizia que eu era parva e que ele nao merecia que eu pensasse isso. Eu apercebia-me da minha estupidez e esquecia por uns dias...
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Normal, oral, anal, tudo exploravamos, queria fazer tudo para o agradar. Nao era falsa, sabia que tambem a mim me agradava, mas mesmo coisas como deixa-lo fazer o que queria de mim, ter orgasmo onde quisesse, dar-lhe 20 minutos de oral, nao eram propriamente o que eu mais apreciava e mesmo assim eu fazia, sem pensar duas vezes, porque... simplesmente porque o amava...
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Comecei a aperceber-me da mudanca de atitude radical numa Segunda-Feira. Dum dia para o outro, deixou de me ligar, de estar comigo, dizia que queria espaco, e eu sentia-o desaparecer. Comecei a ver as pessoas olhar de lado para mim na escola, em algumas ruas. Sentia que falavam de mim. As minhas amigas arranjavam desculpas para nao estar comigo, fui perdendo tudo, dias apos dia. Nao compreendia o que se estava a passar, ate que um dia o professor de Portugues vem falar comigo. Havia tocado para fora e eu arrumava a mochila quando se aprozimou de mim...
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- Joana, importas-te que eu tenha uma palavra contigo? [continua]

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(Des)ilusao - Parte I

[aconteceu tudo muito rapido. Num momento estava na minha terra natal, agora estou aqui, longe, porque tive de fugir daquilo tudo...]
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No inicio achei estranho... O Joao sabia ha quanto tempo gostava dele e sempre nao me dera a minima importancia, nem ao trabalho de me dar falsas esperancas se deu. Contudo, dum dia para o outro comecou a falar muito comigo, a insistir em beijar-me, tocar-me, movendo as coisas a um ritmo a que nao estava acostumada. Mas gostava dele duma maneira de que nunca tinha gostado de ninguem, ele era o tipo de rapaz com que toda a rapariga de 16 anos sonha: inteligente, divertido, desportivo, toda a gente gostava dele, amigos, professores, raparigas, raparigas... Por isso mesmo senti-me especial quando ele reparou que eu existia e comecou a querer andar comigo, estava feliz, muito feliz.
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Como tanto dele gostava, nao lhe negava nada, a ele me entregara de corpo e alma, imaginando que seriamos diferentes dos demais, e levariamos este amor ate ah morte. Fazia poemas, muito maus por sinal, que nao mostrava a ninguem sobre o nosso amor, sonhava com ele, queria-o de noite e de dia. Ele de vez em quando parecia distante ou aborrecido e eu questionava-o, se ja nao gostava de mim, mas ele dizia que sim, que eu eh que nao gostava dele, ouentao ja o tinha aceite... Ou seja, ja teriamos tido relacoes... E assim, nao muito tempo tardou e comecamos a ter. Nao falava disso a nenhuma das minhas amigas. Apesar de sermos todas raparigas sem grandes preconceitos, eramos todas virgens, e o sexo era algo que nao fazia parte das nossas conversas.
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Joao queria levar as coisas todas muito rapido. Tudo aquilo era novo para mim, nao sabia nada de nada, e ele fez por me mostrar tudo, algumas coisas que aprendi, ou fiz so para o deixar feliz, nao porque realmente quisesse. Mas era assim que eu ficava feliz, em deixa-lo feliz. Chamem-lhe simplicidade, eu chamava-lhe entrega, amor...
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Com o tempo, aprendi a obdecer aos seus ritmos. Havia certos intervalos em que queria estar com os amigos, outros em que queria estar comigo. Havia certas alturas que queria fazer amor comigo todos os dias, outras em que nao me ligava durante uma semana. Algumas amigas minhas avisavam-me, que aquilo nao era normal, que ele nao parecia gostar tanto de mim como eu dele... contudo, quando eu o confrontava com isso, ele respondia-me um tanto zangado que era simplesmente porque tinhamos uma relacao dos tempos de hoje, em que os namorados nao tem de se absorver um ao outro! Eu fingia que compreendia, mas ah noite por vezes adormecia com lagrimas a viajar no meu rosto. Sentia-o distante, mas acreditava no seu amor. [continua]

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domingo, abril 03, 2005

Mudar

ELE
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Imagino quantas vezes o nosso destino se tera cruzado... Quantas vezes a vi passar por mim no comboio, na rua, neste ou naquele bar... Sem querer, acabei por saber em que estacao sai, em que estacao entra, que bebida pede quando sai, que perfumes usa. Era impossivel nao reparar nela. Alta, pele branca e delicada, olhos grandes e azuis qual mar em euforia e cabelo longo, liso e negro como o ceu numa noite de tempestade. Vestida sempre a preceito mas simples, atravessa algumas vezes por dia a minha VIDA e deixa-me a suspirar...
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Eh impossivel que ela tambem nao tenha reparado em mim. Trocamos olhares, vez por vez, embora menos dos que desejava. Tipica finlandesa, nao passa cartao a ninguem. Sao assim estas mulheres, de dia nao ligam nenhuma, de noite transformam-se, desinibem-se. Pena nao a ter encontrado ja numa altura de desinibicao, poderiamos efectivamente, falar! Sim, falar! Ha quanto tempo que a vejo passar por mim, e nunca falamos, nem sequer pedir as horas...
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ELA
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Esta ali ele outra vez, deveria falar com ele a dizer-lhe para parar de olhar para mim? Nao posso tocar no cabelo, atender o telemovel ou fazer o que quer que seja sem o ter a observar, sinto-me com dois olhos gigantes nas costas! Podia simplesmente evitar apanhar o mesmo electrico que ele apanha, mas nao acho que faca sentido eu mudar os meus habitos por causa de uma coisa ma que outra pessoa faz! Sempre fui assim, como meu sentido de justica muito presente e capaz de saber e seguir os meus direitos, ainda que isso faca com que sofra a minha parte...
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ELE
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Sabado... Hoje nao a vou ver seguramente, ao fim de semana nao ha rotinas. Saio de casa, com o objectivo de ir almocar ah pizzaria perto da estacao, apanho o 4, o electrico que me leva ao centro, e surpreendo-me logo de seguida... Sim, eis que a vejo sentada no banco de tras, a ler um livro. Sera que ainda nao acabou de ler o anterior? Pois penso que esta coincidencia tem de querer dizer alguma coisa, algum sinal de forcas superiores, e decido falar com ela...
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- Quem diria que em Marco ainda teriamos temperaturas negativas, ha?- digo, com um sorriso auto-confiante que mostra que o objectivo da minha conversa nao eh propriamente a temperatura.
- Quem diria que no seculo XXI ainda teriamos palhacos que perseguem as mulheres, ha? - diz, com um sorriso sem significado que mostra que o objectivo dessa resposta nao eh propriamente o meu bem estar. E consegue. Naquele momento nao sei bem como agir. Fico ali parado uns segundos, que parecem horas, sem saber o que dizer ou para onde ir. Volto costas quando o consigo fazer e sento-me no primeiro banco que aparece. Penso se tera razao e descubro que nao. Nunca fiz por estar com ela, meu pecado foi apenas ser observador e admirador duma beleza como a sua.
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Sempre fui uma pessoa com um bom tacto, boa educacao, mas naquele momento cago para isso tudo. Entao, levanto-me, dirigo-me a si. O seu olhar eh de desprezo, mas encontra o meu. Neste momento digo, devagar para perceber bem: Vai pra puta que te pariu!
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ELA
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As vezes precisamos que nos agarrem nos ombros e nos abanem com toda a forca, ainda que so com uma frase e um olhar, para que realmente percebamos certos aspectos da nossa personalidade. Quando ele se levantou outra vez e caminhou na minha direccao, a primeira coisa em que pensei foi que viria a rastejar a pedir para eu lhe dar uma oportunidade de tomar um ca\fe. Oportunidade que eu nunca daria. Nao me passava nada pela cabeca a nao ser ele a pedir-me algo. Contudo, a firmeza com que disse o que disse fez-me cair tudo. Nao pelo que disse em si, disso toda a gente ouve vez por vez, mas a seguranca e sinceridade com que o disse fez-me sentir suja, estupida e, acima de tudo, ma!
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As vezes vivemos no nosso mundo, pensamos que as outras pessoas so existem para nos servir, ou admirar, mas nunca para cruzar a linha imaginaria que estabelecemos na nossa mente. Essa linha divide quem merece de quem nao merece, coisas que decidimos conforme nos apeteca, nao conforme o que fazem por nos. Quem me garante que o rapaz realmente me estava a seguir? Nao poderia ser que apenas tivesse os mesmos horarios que eu e que eu, de me sentir a maior, sentisse que me estava sempre a olhar?...
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E assim me quedei com este pensamento ate ao fim do dia disposta a mudar... Nao falei com ele, tinha vergonha da minha propria reaccao, que apesar de acutilante, fora tao cruel. E assim as pessoas, com palavras ou olhares apenas, conseguem mudar toda uma estrutura de outra...

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sábado, abril 02, 2005

Um Amor

- Desculpa, mas nao da mais... Gosto muito de ti, es espetacular, mas nao consigo mais ter esta relacao... Tudo demasiado perfeito, sem surpresas, sem nada... Ou melhor, com tudo, e sempre com tudo, nunca com "nadas" no meio que nos fazem equacionar a relacao. Eu sei que este discurso nao faz sentido nenhum, mas a falta de coisas que me fizessem equacionar a nossa relacao fez com que eu o fizesse. E por isso, nao quero mais...
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Aquelas palavras cairam como uma bomba. Assim passa quando tudo esta bem, tudo esta perfeito... Nem paras para pensar que algo pode realmente correr mal... Esforcas-te para que tudo corra bem, e isso so faz com que corra mal? Que sentido eh que tem isto? Dito isto, saiu pela minha porta, e foi-se... Ali me fiquei, na minha cozinha, com o cha ah frente, a olhar para os azulejos claros, sem pensar em nada. Chegou com um sorriso triste e disse que tinhamos de falar. Propos um cha e sentamo-nos ah mesa. Passados uns minutos e alguma conversa de chacha, disparou. Vi que tentou nao ser cruel ou insensivel, mas o discurso em si, o que disse, atravessou-me dum lado ao outro...
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Depois disso nunca mais nada foi o mesmo... As pessoas habituam-se umas as outras... Ao cheiro, ao toque, as chamadas perdidas no telemovel, ao aroma que fica na almofada depois de dormir na nossa cama. Agora, a ideia que ele vai andar por ai, perdido de mim, sem mim, assusta-me... Imagina-lo na cama com outra mulher da-me um desgosto terrivel... Imagina-lo fazer-lhe tudo o que me fazia, as caricias, as brincadeiras, faz-me sentir sem valor nenhum...
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O que somos nos sem uma relacao forte, sem uma relacao mais importante que a nossa propria VIDA? Somos pedacos descolados eternamente ah procura de alguma outra coisa... Coisas sem sentido e seres sem ninho nem lar... Depois dum grande amor, podera existir outro? Nao me vou entregar a depressoes ou histerias, nao faz o meu estilo, mas o meu sorriso nunca mais sera o mesmo... E sera que pode aparecer outra pessoa que me salve desta solidao amorosa? Penso que sem duvida aparecera alguem, mas o meu grande amor, ja existiu, e ja passou...

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