quarta-feira, março 16, 2005

Sozinha Outra Noite

Finalmente ele aceitou vir sair comigo. Espero que ja tenha ultrapassado os preconceitos todos e siga o seu coracao! O pior eh se o seu coracao nao vai em direccao ao meu. Mas isso eh outra historia.
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Olho ao espelho, acho que estou bem, calcas e blusa preta, um colar de ouro discreto. Sim, estou bonita. E ela, ela de certeza estara tambem, esta sempre bonita. Ligo-lhe, diz que passa em minha casa primeiro com uma garrafa de vinho tinto. Tento nao lhe dar a entender que nao estava ah espera desta proposta e adoro! Digo com uma voz calma que sim, acho uma boa ideia. Claro que mal desligo pareco uma desvairada, 100km/h a tentar arrumar tudo, por incenso, umas velas a arder...
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Passados 15 minutos chega. Traz uma blusa com riscas vermelhas e brancas e umas calcas pretas. O cabelo penteado magistralmente, um sorriso no rosto e uma garrafa na mao. A meia hora que levamos a beber a garrafa passa em menos de um trago. Eh assim quando estou com ela, o tempo nao voa, desaparece.
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- Queres is ao Raatikellari dancar um pouco? - proproe. Ja estamos um pouco embriagadas, porque o vinho foi coroado com 2 shots de Salmari, a nossa tipica bebida finlandesa.
- Sim, claro. - preferia ficar em casa a ver um filme, enroladinhas no sofa, mas pronto.
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Quando chegamos, depois de pagar os 3 euros de entrada, pousar os casacos fomos pedir uma bebida, para de seguida irmos dancar. Na pista passava musica agradavel, mas se nao passase seria o mesmo. Nao estava muita gente, nao estava pouca gente. Ficamos a dancar perto de um rapaz e duas raparigas. Elas seguramente finlandesas e ele, seguramente nao. Moreno, cabelo comprido e escuro apanhado atras, vestido com jeans e t-shirt. Italiano, portugues...
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Dancavamos efusivamente, e algumas pessoas olhavam para nos disfarcadamente (nao tanto, ou eu nao perceberia...). Consigo "puxa-la" para mim e comecamos a dancar mais proximas. Tento beija-la, mas ainda nao eh desta. Deixo-me levar e num momento eh como se estivessemos sozinhas na pista de danca. As minhas maos viajam pelo seu corpo como se fosse o meu proprio, entram na sua camisa, sobem um pouco e tocam uma parte de seu seio. Ai, como uma puxada ah realidade, ela abranda o ritmo e baixa a minha mao, com um sorriso. Eh, para mim, tempo de descanso e vou um minuto ao quarto de banho.
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Claro que la fico por mais que um minuto, era so uma forma de dizer. Olho-me ao espelho, ponho um sorriso que eh tudo menos falso, ja que estar com ela eh um elixir de felicidade (se eh que isto existe) e saio. E pronto, eh aqui, neste preciso momento, que a minha noite acaba. Puta que pariu, estava a correr bem demais! A musica deve ter piorado, porque toda a gente saiu da pista, ah excepcao de um casal, que danca, ou melhor, que se esfrega no centro da mesma. Ele feio e bruto, com parte da sua mao dentro das calcas dela, e ela, a minha menina, a minha paixao, a apunhalar-me duma maneira incrivel. Fico no canto a fumar um cigarro, com as maos a tremer. Porque?
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Mando-a foder no meu pensamento e vou-me. Nao a mando foder no meu pensamento literalmente, porque a foder no meu pensamento vai estar ela toda a noite com aquele cabrao! O que faco eh pensar "Que se foda" e vou sentar-me para acalmar, antes que a arranque dos bracos daquele troglodita.
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No canto, em frente ah mesa de Black Jack estao sentados a tal rapariga que parecia finladesa, e o tal rapaz que parecia do sul da europa. Pergunto se me posso sentar e o rapaz faz cara de envergonhado e diz que nao fala finlandes. A rapariga aproxima-se e digo-lhe que tenho de me acalmar e gostaria de me sentar na cadeira que sobra. Ela acede e assim o faco. Eles continuam a falar descontraidamente e eu comeco, sem querer, a soltar lagrimas. Sempre a mesma merda de fim. No final, sempre sozinha. Olho ah volta, toda a gente esta com alguem: namorados, amigos, conhecidos, colegas de trabalho, e eu, mais uma vez, sozinha. Vou buscar o meu casaco, nao me dou ao trabalho de lhe dizer Xau e saio.
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Chego a casa e deito-me no sofa sem tirar a roupa, a chorar ate adormecer...

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quarta-feira, março 02, 2005

A Mulher do Hospital - Parte XII

[pausa]
- Luis, que fazes aqui?
- O mesmo que tu nao faco certamente... - Neste momento levanta-se m pouco bruscamente, toca-me no braco como quem diz para a seguir e sai para fora. Faco um sinal de desculpa ao seu "amigo" e saio atras dela. La fora ela espera-me, bela como sempre, mas agora ja nao com a mesma aura com que eu a via antes...
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- Qual eh a tua Luis? Andas a seguir-me eh? - dispara, de uma maneira fria e quase cruel. Nao digo nada, fico a olhar para si, estupefacto, mas com uma cara indecifravel. Na verdade nao sabia que dizer. Era obvio que estava a trair-me. Nao que tivessemos uma relacao e me estivesse a trair com outra pessoa, estava a trair-me no sentido em que, simplesmente, me mentira neste tempo todo.
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- Primeiro, - digo calmamente - nao, nao te ando a seguir, ou concerteza ja te teria aparecido ah frente mais cedo e talvez ate te surpreender com outro amigo qualquer... - Ia comecar a dizer qualquer coisa mas faco sinal para esperar - Segundo, que merda eh esta? Que eh que tu estas a fazer? - aqui interrompe-me e fala:
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- Que eh que eu estou a fazer? Que eh que tu estas a fazer? - esta irritada agora - Que direito eh que pensas que tens de chegar ali com aquela cara e dizer-me aquilo?
- Ouve la, queres falar de direitos eh? Que direito eh que tu tens de me deixar assim este tempo todo, completamente pendurado, sem ter a puta lata de me dar ao menos uma tampa, um "desaparece", um "vai pro caralho"?? Sabes o que tenho passado, cada dia ah espera dum telefonema teu? Que merda eh essa?... - Neste momento acalma-se e aproxima-se. Fala, com uma voz cuidada, e um discurso que quase parece planeado ("quantas vezes ja o tera dito", penso)...
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- Engracado... Tao aparentemente perspicaz ao inicio, e tao estupido no que realmente importa... Pensas mesmo que eu nao conseguia arranjar uma meia hora nestes dias todos? Pensas mesmo que eu nao tinha estado contigo porque nao tinha podido? Se pensas ainda assim, pobre de ti... O que nos tivemos foi bom, foi intenso, foi maravilhoso! E por isso mesmo, fica por ai... Nunca quis continuar algo assim... Nunca pensei em depois daquilo comecar uma relacao contigo, amar-nos, casar-nos, cair na estupida rotina, vermo-nos envelhecer... Queria que a minha ultima imagem de ti fosse tu nu na minha sala, belo, a dormir depois de me ter levado ao cumulo do prazer e lembrat-te, quem sabe, para sempre! Nao esta imagem que tenho agora, de um homem quase desesperado por nao saber ler nas entrelinhas... Querias algo concreto nao era?... Um Adeus, eh concreto nao eh?... Adeus Luis. - diz baixinho, dando-me um beijo na cara e indo de seguida para dentro.
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Eu fico, ali, sozinho... Sento-me na beira da parede em frente ah porta, a ver os estudantes passar, sem saber o que pensar... Ha um buraco dentro de mim enorme. Como pude ser tao estupido? Toldar-nos-a o amor a visao assim tao estupidamente? E este amor estupido, de onde veio? Estive com ela apenas uma meia duzia de vezes, mas criou-se algo em mim que agora que perdi, nao conseigo suportar ou esquecer... Nao choro, sinto em vez de lagrimas uma dor estranha e angustiante no fundo da garganta...
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Ali fico por meia hora, ate que me levanto e vou para casa, a pe. Chego, abro a porta e entro. Nao acendo nenhuma luz e sento-me no sofa. Queria ter forcas para resistir a isto tudo, mas, apesar de nao compreender, houve algo em mim que se perdeu. Sinto sem o ver, que o brilho dos meus olhos que me fazia tao especial desapareceu. Quando acreditas tanto em alguem ou em alguma coisa, todas as provas de que esse alguem nao existe sao para ti meras coincidencias ou ocasionalidades. Apesar de ja nao ser propriamente um adolescente, sinto que num momento envelheco duma forma irrecuperavel, perco aquele brio e alegria em viver que tanto me distinguia...
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[nao continua]

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