A Mulher do Hospital - Parte XII
[pausa]
- Luis, que fazes aqui?
- O mesmo que tu nao faco certamente... - Neste momento levanta-se m pouco bruscamente, toca-me no braco como quem diz para a seguir e sai para fora. Faco um sinal de desculpa ao seu "amigo" e saio atras dela. La fora ela espera-me, bela como sempre, mas agora ja nao com a mesma aura com que eu a via antes...
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- Qual eh a tua Luis? Andas a seguir-me eh? - dispara, de uma maneira fria e quase cruel. Nao digo nada, fico a olhar para si, estupefacto, mas com uma cara indecifravel. Na verdade nao sabia que dizer. Era obvio que estava a trair-me. Nao que tivessemos uma relacao e me estivesse a trair com outra pessoa, estava a trair-me no sentido em que, simplesmente, me mentira neste tempo todo.
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- Primeiro, - digo calmamente - nao, nao te ando a seguir, ou concerteza ja te teria aparecido ah frente mais cedo e talvez ate te surpreender com outro amigo qualquer... - Ia comecar a dizer qualquer coisa mas faco sinal para esperar - Segundo, que merda eh esta? Que eh que tu estas a fazer? - aqui interrompe-me e fala:
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- Que eh que eu estou a fazer? Que eh que tu estas a fazer? - esta irritada agora - Que direito eh que pensas que tens de chegar ali com aquela cara e dizer-me aquilo?
- Ouve la, queres falar de direitos eh? Que direito eh que tu tens de me deixar assim este tempo todo, completamente pendurado, sem ter a puta lata de me dar ao menos uma tampa, um "desaparece", um "vai pro caralho"?? Sabes o que tenho passado, cada dia ah espera dum telefonema teu? Que merda eh essa?... - Neste momento acalma-se e aproxima-se. Fala, com uma voz cuidada, e um discurso que quase parece planeado ("quantas vezes ja o tera dito", penso)...
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- Engracado... Tao aparentemente perspicaz ao inicio, e tao estupido no que realmente importa... Pensas mesmo que eu nao conseguia arranjar uma meia hora nestes dias todos? Pensas mesmo que eu nao tinha estado contigo porque nao tinha podido? Se pensas ainda assim, pobre de ti... O que nos tivemos foi bom, foi intenso, foi maravilhoso! E por isso mesmo, fica por ai... Nunca quis continuar algo assim... Nunca pensei em depois daquilo comecar uma relacao contigo, amar-nos, casar-nos, cair na estupida rotina, vermo-nos envelhecer... Queria que a minha ultima imagem de ti fosse tu nu na minha sala, belo, a dormir depois de me ter levado ao cumulo do prazer e lembrat-te, quem sabe, para sempre! Nao esta imagem que tenho agora, de um homem quase desesperado por nao saber ler nas entrelinhas... Querias algo concreto nao era?... Um Adeus, eh concreto nao eh?... Adeus Luis. - diz baixinho, dando-me um beijo na cara e indo de seguida para dentro.
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Eu fico, ali, sozinho... Sento-me na beira da parede em frente ah porta, a ver os estudantes passar, sem saber o que pensar... Ha um buraco dentro de mim enorme. Como pude ser tao estupido? Toldar-nos-a o amor a visao assim tao estupidamente? E este amor estupido, de onde veio? Estive com ela apenas uma meia duzia de vezes, mas criou-se algo em mim que agora que perdi, nao conseigo suportar ou esquecer... Nao choro, sinto em vez de lagrimas uma dor estranha e angustiante no fundo da garganta...
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Ali fico por meia hora, ate que me levanto e vou para casa, a pe. Chego, abro a porta e entro. Nao acendo nenhuma luz e sento-me no sofa. Queria ter forcas para resistir a isto tudo, mas, apesar de nao compreender, houve algo em mim que se perdeu. Sinto sem o ver, que o brilho dos meus olhos que me fazia tao especial desapareceu. Quando acreditas tanto em alguem ou em alguma coisa, todas as provas de que esse alguem nao existe sao para ti meras coincidencias ou ocasionalidades. Apesar de ja nao ser propriamente um adolescente, sinto que num momento envelheco duma forma irrecuperavel, perco aquele brio e alegria em viver que tanto me distinguia...
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[nao continua]
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