A Mulher do Metro - Parte VIII
Ali estávamos, lado a lado, ela fumando o seu "cigarro de puta", eu fumando o meu JPS. Nenhum de nós abrira o jogo. Permanecíamos calados, concentrados em nenhum de nós sabia o quê. Resolvi ser eu o primeiro a falar.
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- Então dizes que estava recheada não é? Quer dizer que posso esquecer aquele dinheiro não é?...
- Ladrão que rouba a ladrão...
- Não há problema, era dinheiro falso de qualquer maneira... - neste momento roda a cabeça e atira-me um olhar que me diz algo como "hã?".
- Não te preocupes, estou a gozar-te. - E ganho neste momento os meus primeiros pontos, consigo arrancar-lhe um sorriso. Que mulher... Pena sorrir pouco, porque fica ainda mais bela. Por outro lado, quando não sorri fica mais atraente... E não sei que prefiro...
- Então e diz-me tu, a tua VIDA é isto, roubar carteiras no metro?
- Dá-nos cabo dos pulmões não é?... - Passar horas enfiado num metro não é fácil...
- E não sentes remorsos? Nunca foste apanhado?
- Não sinto remorsos, mas escolho quem roubo. E não, nunca fui apanhado. E tu?
- Não - responde, evasivamente - Não faço o que tu fazes, se bem que tenho admitir que me deu um certo prazer roubar a carteira a um auto-intitulado mestre! - Podia dizer-lhe que só me apanhou porque estava deslumbrado consigo... mas nem pensar...
- Pois imagino... Ficas para jantar? - arrisco.
- Não, tenho de ir, tenho um trabalho agora. - Este tenho "um trabalho" deixou-me curioso.
- Um trabalho?
- Sim.
- Posso saber o quê?
- Não.
- Então e vês-me outra vez?
- Agora a bola 'tá no teu campo. - e sai. Veio a minha casa entregar-me a minha carteira sem dinheiro, fumar um cigarro sem cinzeiro, e vai-se embora assim. Estou a gostar. [continua]