terça-feira, novembro 09, 2004

A Mulher do Hospital - Parte VI

Quando entramos dirigimo-nos ao local onde podemos guardar nossos casacos. MJoao estendeu-me o seu, adivinhando a delicadeza que eu teria, de me oferecer para o guardar. Com seu braco branco e fino, estendeu-me seu casaco suavemente, mas sem olhar para mim. Eu, ao mesmo tempo que pagava ao senhor, tentava perceber qual era seu jogo. Que gozo me estava a dar aquilo. Queria prolongar para sempre... Eis que solta o cabelo, inclina a cabeca um pouco para tras, fazendo-o dancar lentamente, enfia seus dedos por entre as madeixas e agita calmamente. Enquanto fazia isto segurava o pedaco de madeira que usara para prender o cabelo, com seus labios, num trejeito que a fazia ser extremamente sensual. Agora sabia que estava a ser genuina, aquela sensualidade era-lhe propria, nao estava com jogos, tampouco sabia que eu a estava a admirar. Ao inclinar sua cabeca para tras, deixou-me ver tambem um pouco de sua barriga. Perfeita... Branca, como de resto tudo o resto, bela, firme. Adivinhei uma tatuagem junto ah anca direita, mas nao consegui perceber o que era. Guardou o pedaco de madeira no bolso de tras das calcas.
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- Estou desejosa de uns passinhos de danca, atreve-se?... - pudera eu explicar a maneira como falara, e seria o poeta mais sensivel e inteligente de sempre. Nao consigo explicar a maneira como seus olhos brilhavam, como se estivesse estado a chorar, mas sem se notar a tristeza. O seu cabelo, que dantes me deixara interessado, havia agora declarado-se a mim. Queria perder-me nele, embalar-me. Amaldicoei-me porque os papeis estavam novamente modificados. Ou melhor, estavam modificados, porque agora nao pensavamos sequer no desejo que o outro sentia por nos, so nos interessava a maneira como desejavamos o outro.
- Como poderia dizer que nao?... - disse, caminhando lentamente em direccao ah pista. Juro que nao sei dizer que musica tocava... Nao interessava. Balancava o meu corpo da mesma maneira que ela balancava o seu. So tinha olhos para ela, so tinha ouvidos para ela, queria ter meu corpo para ela. Estava perdido de paixao, de desejo.
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A situacao comecava a ficar insustentavel. So me dava cada vez mais desejo ver a maneira como ele me desejava. Estava ah espera de um movimento de ataque. Queria que ele me atacasse. Nao queria ser eu a dar o primeiro passo, queria ser conquistada, mas tinha de lutar comigo mesma para nao por em accoes tudo o que sentia.
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Os dois, envolvidos por todo aquele clima criado pelos mesmos, viam o tempo passar, ora devagar, quando queriam que passasse rapido para sairem dali e poderem ser livres, ora depressa, quando pensavam que adoravam aquilo que estavam a fazer, os jogos que estavam a jogar, aquilo que estavam a criar. A sensualidade ganhara nomes, ganhara forma, e passeava pelos corpos de ambos, de maneira suave e quase pura. Ao mesmo tempo, eram como criancas, que nao sabiam o que fazer, so sabiam o que queriam fazer. Seus corpos estavam cada vez mais juntos. Luis conseguia ouvir mais facilmente seu coracao, sua respiracao do que a musica e seu ritmo. Dancavam agora juntos, colados, sentindo o cheiro e quase o sabor de seus corpos. Luis com suas maos nas ancas de MJoao, esta balancando seu corpo, ao ritmo de seus desejos, passeando seus labios a escassos centimetros dos de Luis. Este, quase bruto, agarra-a, puxa-a para si e sente seu corpo vibrar, sorrir.
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Foi este que pos em palavras os desejos de ambos quando, chegando sua boca aos ouvidos de MJoao, sussurou: - Vamos sair daqui...

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