quinta-feira, novembro 11, 2004

"Agora" [Outro Ponto de Vista]

- Diz-me que vais amar-me para sempre. - Acho que foi aqui, neste preciso instante, que vi tudo acabar. Nao que fosse uma pergunta inedita, ja tinhamos falado nisso algumas vezes, sem acabar com a relacao. Mas naquele instante, no momento em que foi, na altura da nossa relacao, tudo parecia dizer-me que aquela pergunta encerrava tudo. Estavamos deitados, eu de barriga para cima, ela a meu lado. Podia ter dito mil e uma coisas, mudar de assunto, fazer promessas, mas eu nao sou assim... Se calhar devia ser, mas nao sou. Bem, mas nao interessa nada isso, tive de dizer o que ia dentro de mim...
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- Sabes que nunca penso no futuro. - disse, continuando a mirar o tecto. Nao estava a olhar para ela, mas poderia descrever exactamente a sua expressao. Acho que no fundo ja sabia o que ia responder. Nao sei... Nao consigo, nao quero mudar. Sei que devia fazer cedencias, tentar mudar, mas conhecemo-me, e sei que se nao for fiel a mim mesmo nao me sinto bem. Mas eu tentei, ela seguramente pensa que nao, mas tentei. Quantas noites cheguei a sua casa com um filme e pipocas, disposto a passar uma noite sossegada com ela? E quantas vezes ela adormecera no sofa, deixando-me a ver o filme "sozinho"? Nao a condenava, subia-lhe o cobertor, dava-lhe um beijo na cabeca e ia la fora, respirar a noite e pensar...
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Levantou-se e comecou a vestir-se. Eu olhava para ela, como que tentando gravar na minha memoria estes ultimos momentos passados com ela. Apesar de tao diferente de mim, nos ultimos tempos, desde que entrara na minha VIDA contribuira para uma certa estabilidade, um "nao me sentir sozinho". Adorava-a, e gostava de estar com ela. Nao sei se vamos continuar a ser amigos ou nao, acho dificil, estar com ela como amigo, talvez sempre a pensar no que passou... Nao acabamos a relacao chateados, isso nao. Desde o inicio, quando no Teatro Gil Vicente iamos ver aquela peca (que nao me lembro), beijamo-nos, como que num acto de confirmacao do romance que crescia de dia para dia, e fiz questao de lhe dizer:
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- Eu gosto de ti, gosto muito de ti e gosto de estar contigo. Mas nao sei se gostas da maneira como encaro a VIDA. Contudo eh justo dizer-te, que nao consigo, nem quero, mudar... Se ficares comigo, tudo o que te posso dar eh o "agora", nunca me pecas o "amanha". - ela sorriu e disse que naquele "agora" queria estar comigo.
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E assim fomos vivendo um "agora" juntos, quase sempre a 200 ah hora, acompanhando minha maneira de viver. Enganava-me a mim proprio, dizendo que ela gostava, mas reparava num olhar distante e quase triste que por vezes deixava escapar.
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Antes de comecar a vestir-se disse-me...
- Desculpa, sempre estive errada. Bem sabes que o meu "agora" sempre foi diferente do teu... Desculpa.
- Sempre o soube, mas neste "agora" tinha-te, e era tudo o que me interessava. Adeus, ficaras sempre no meu passado. - estava a dizer isto e ja estava com saudade dela. Lembrar-me-ia do seu rosto, da sua maneira para sempre.

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