sábado, maio 07, 2005

(Des)ilusao - Parte III

- Nao, professor, diga...
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Olha-me com uma cara que me parece um misto de tristeza, preocupacao, solidariedade, nao sei bem. Abre a sua pasta e procura qualquer coisa dentro, enquanto me diz:
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- Quero que tu tenhas calma, tudo se vai resolver. Juntos vamos poder encontrar uma solucao para evitar piorar a situacao. Quero que saibas que mal me apercebi do que era, desliguei completamente!
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Neste momento tira da sua pasta uma cassete de video, preta e sem etiqueta nenhuma. O meu coracao disparou e comecei a sentir-me quente no corpo todo, quase tonta. Nao podia ser o que eu imaginava! O professor liga a televisao, tira o som, mete a cassete dentro, carrega no play e vir costas. E pronto, foi nesse momento, nesse preciso momento que perdi toda a minha confianca nas pessoas, que deixei de acreditar em coisas como o amor, a bondade, todos esses sentimentos que so os desfazados da realidade conhecem.
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Na televisao vejo-me a mim, sentada na cama do Joao, e ele a meu lado. Se nao estava em erro tinha sido na passada semana. Estavamos vestidos, mas eu sabia ao que ia chegar aquele filme. Sentei-me lentamente, em camara lenta, como se a minha propria VIDA fosse um filme, tornada agora em filme de terror...
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Sentei-me na mesa. La fora uns miudos jogavam futebol com uma lata de Coca-Cola. Como queria ser como eles, sem problemas, a VIDA nao pregava rasteiras destas. Nao solucava, mas lagrimas saiam a toda a velocidade dos meus olhos, escorrendo pela face e caindo na mesa de madeira beje.
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Sem olhar para a televisão, o professor pega no comando e desliga. Senta-se à minha frente e diz qualquer coisa. Qualquer coisa, porque estou tão abstraída de tudo naquele momento que ouço apenas alguns ruídos, aos que, obviamente não respondo. Num momento, tudo fazia sentido, e num momento, não sei quantos anos envelheci. Sem as alegrias e tonterias por que deveria ainda passar, fui directamente para a fase da amargura, para aí ficar, até morrer, creio...
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O que veio depois, já se sabe... Não podia continuara a viver ali, numa terra onde toda a gente me tinha visto e o podia fazer quando quisesse a fazer o que eu menos queria que vissem.
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Há todo o tipo de pessoas no mundo... Pessoas capazes de por coisas assim na Internet. Pensava que só acontecia aos outros... Mudar de cidade, esperar que alguém aí veja o filme, me identifique com ele e começe a espalhar... Mudar de cidade, tudo de novo, até que começo a mudar-me a mim, nome, aspecto, para poder ao menos libertar o peso de caminhar na rua e ver os outros a apontar para mim...
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Pensava que só acontecia aos outros...

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