Apreciar
- Desculpe, vamos fechar.
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- Desculpe, vamos fechar - acordo da minha, vamos chamar-lhe, submersao literaria. Lia avidamente "O Retrato de Dorian Gray". Entrara na biblioteca pouco passava das 14h e agora eram ja as 18h. Olho o relogio, que de facto confirma que, mais uma vez, quedei-me ate ao final no mesmo sitio de sempre, a biblioteca, com meus amigos, Ulisses, Conde de Monte Cristo, Veronika, e por ai fora.
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Levanto-me, pego no caderno onde gosto de apontar as minhas passagens preferidas, e guardo no meu saco verde escuro. Guardo os oculos e saio. Uma aragem fresca passeia na rua e ao ver-me decide mudar-se para o meu corpo, onde se diverte um pouquinho arrepiando cada pelo. Levanto a gola do casaco e vou para o cafe do costume, onde vou todos os dias quando saio da biblioteca. Pelo caminho cruzo muitos olhares. As pessoas olham para mim porque sou bonito, e aproveito isso para as olhar nos olhos e, por segundos, tentar encontrar a inspiracao que me falta.
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Ao chegar, peco um cafe, abro o meu outro caderno. Cruzo as pernas e tento concentrar-me. Nada. Nada. Nao consigo escrever nada. Que legado sera o meu? Nao consigo nem posso encontrar alguem para constituir familia, nao vejo em plantar uma arvore uma grande coisa, e escrever um livro eh a minha alternativa para deixar alguma coisa neste mundo. O tempo urge e quem sabe se daqui a um ano ainda estou aqui, quem sabe se nao fui ja levado por esta doenca que me consome dia apos dia...
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O cafe chega, e bebo devagar, apreciando cada trago do meu Buondi. Ah minha volta pessoas submersas em suas VIDAS, rindo, falando, lendo... A empregada quase corre dum lado para o outro tentando atender todos os periodos. Estas pessoas que vejo ah minha volta... Ja fui como elas, preocupava-me com isto, com aquilo, coisas sem interesse nenhum, e nao me preocupava com o mais importante. Agora que sei que vou morrer em breve, tal como Veronika, so agora que sei que vou perder algo o consigo apreciar.
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Se o Homem soubesse o quao fragil tudo nesta VIDA eh, seguramente aprendia a rir-se quando um pneu furava, a sorrir quando pisasse uma poca de agua, a apreciar cada segundo desta existencia fugaz.
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Neste momento paro no meu pensamento. Sempre tentei escrever disto, daquilo, que vejo ah minha volta, nunca logrei. Mas nunca pensei em escrever sobre o que vai dentro de mim. Como era, como sou, como percebi que desperdicava algo tao valioso como a VIDA. E quem sabe... Se um dia apenas uma pessoa me ler, e apenas numa pessoa o meu pensamento tiver alguma influencia, ensine, nem que so um pouquinho essa pessoa a apreciar mais a VIDA, acho que ja me dou por contente...
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