sábado, junho 02, 2007

Um Título Qualquer!!

Não sei bem como começou. Ou porque começou. Bem... Acho que consigo imaginar, supor... Mas fico na dúvida... Foi quando olhei para ela, foi quando falou comigo, foi quando a beijei... Quando foi?
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Sei, suponho, onde foi. Ela apresentava-se, como era costume fazer, imperial. Vestida a rigor, com o seu vestido longo, vermelho, sem costas. Conseguia vislumbrar umas costas alvas, um ou outro sinal para retirar a monotonia, linhas harmoniosas. Segurava uma taça de champanhe, com suas mãos cobertas por umas luvas brancas que acabavam perto do cotovelo, qual donzela do século vinte. Imagino que só lhe faltava um cigarro com boquilha e um pequeno sinal na face. Já eu, aparentemente distraído, circulava pela sala, ora com minha mulher, ora sem ela, ora conversando com este, ora conversando com aquele. O meu olhar pousava de quando em vez em si. Atraía-me aquela imagem, e dava comigo a questionar-me se não teria um qualquer ascendente árabe. Talvez eu próprio quisesse que assim fosse, quanto mais não fosse para explicar o exotismo daquele rasgado olhar.
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Sim, esse olhar. Foi talvez esse mesmo olhar que deu um grande empurrão. Eu falava com um qualquer director, aborrecido, fazendo meu olhar viajar entre os ricos candelabros pendurados do tecto beje trabalhado, rico. Tentava parecer interessado na conversa. Tarefa árdua. Nos raros momentos em que tento olhar para o meu interlocutor, para não o deixar a questionar-se acerca do meu interesse, vejo, por cima do seu ombro, mais uma vez a... donzela. Apenas desta vez, ela olhou de volta. Aquele olhar tomou conta de mim. Desloquei para ela o interesse que eu própria sentia, e senti-me desejado.
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Despacho o... director, e aproximo-me. Na mão, um licor beirão, que me deixava, eu gostava de imaginar, um aroma agradável nos lábios. Cerro um pouco os olhos, cedendo ao instinto da sedução que nos impede a esconder um pouco de nós próprios, e falo. Custa-me chamar-lhe a atenção. Faz-se difícil. Aproximo-me um pouco mais, toco-lhe, suavemente, no cotovelo, e pergunto, cordialmente, quem é. O sorriso que recebo é devastador.
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Fruto desta minha aproximação, consigo sentir o seu aroma... Nuvens? Não quero ser ridículo, as nuvens não têm cheiro. E se tivessem, como poderia eu saber? Num pensamento eventualmente ridículo e adolescente, questiono-me se esse aroma não advinha do facto de eu próprio me sentir um pouco a levitar.
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A conversa flui, e sinto qualquer coisa. Viajo até à pele da minha mulher, e vejo-me, elegante, com um smoking que me assenta perfeitamente, a falar com uma muito mais elegante mulher, e sinto ciúmes. Contudo, não sei porquê, isto apenas me impele a continuar.
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Viajo, de seguida, para a pele da minha... donzela, e sinto desejo. Quero sair dali. Entre graças não fantasticamente conseguidas, surge a sugestão de irmos fumar um cigarro ao terraço. Nega, tem de falar com este, com aquele, com o marido... Como cavalheiro que tento ser, afasto-me. O céu está estrelado, fazendo jus ao mês em que nos encontramos, e está uma temperatura agradável. Saco a cigarreira e tiro um Dunhill.
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Estou quase a acabar o cigarro, preparando-me para, destruindo um pouco mais o mundo, o atirar sob o parapeito da janela, quando ela chega. Sinto uma espécie de vitória. Ela tinha voltado.

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